Desde 2014, no mês de setembro é organizada a campanha “Setembro Amarelo” através a Associação Brasileira de Psiquiatria – ABP. O movimento surgiu como resposta aos graves números de suicídio no Brasil, sendo 12 mil anuais no país e mais de 1 milhão no mundo, registrando o maior número de casos em jovens. Dessa forma, o mês tornou-se um símbolo da luta contra essa realidade e da preservação da saúde mental.
Antes de nos aprofundarmos no tema, precisamos entender, o quê é saúde mental? Segundo o Sistema Único de Saúde (SUS), saúde mental é: “um estado de bem-estar do ser humano. Em que o indivíduo é capaz de usar de suas habilidades se recuperando do estresse do dia a dia e ser produtivo”. Dessa forma, a saúde mental também possui relação com o equilíbrio emocional para lidar com problemas internos e externos.
Assim, a experiência que possuímos no nosso ambiente de trabalho afeta diretamente a nossa saúde mental. Isso ocorre, pois, ocupamos cerca de um terço do nosso tempo de vida trabalhando. Logo, tudo que sentimos, observamos e pensamos sobre o nosso trabalho influencia de forma considerável nossa saúde emocional. Diante dessa realidade, a experiência do trabalho carrega um peso enorme em como nos sentimos no final do dia.
Insatisfação no trabalho
Uma pesquisa realizada pelo consultor de carreiras Fredy Machado para seu livro “É possível se reinventar e integrar a vida pessoal e profissional”, revelou que 90% dos colaboradores brasileiros estão insatisfeitas com seu trabalho. Junto a isso, uma pesquisa realizada pela plataforma Blint mostra que 73% dos profissionais entrevistados alegaram estar exaustos no trabalho, tendo alta correlação com o aumento dos casos da síndrome de burnout no ambiente corporativo.
Além disso, dado ao isolamento social frente à COVID-19 e a instituição do trabalho remoto de uma forma abrupta, houve o comprometimento da saúde mental dos colaboradores frente a esse novo cenário. Os resultados da nossa pesquisa Remote Work Experience indicam que a Saúde Mental foi o tópico pior avaliado pelos colaboradores frente ao Home Office, com 25% de não favoráveis.
Saúde mental e isolamento social
Frente ao cenário atual, podemos concordar que há diversas melhorias que devem ser aplicadas, e o mais rápido possível. Para começar, é necessário reconhecer que a saúde mental dos colaboradores é um aspecto importante que devemos prestar atenção dentro da experiência do colaborador. Assim, a primeira mudança prática pode ser avaliar a saúde mental dos colaboradores através de ferramentas de gestão da experiência, seja com uma pesquisa ou qualquer outra forma de avaliação e feedback.
Como forma de resposta à ameaça do aumento dos transtornos psicológicos provocados pelo momento do isolamento social, 75% das empresas brasileiras criaram ações de apoio psicológico aos colaboradores, segundo a pesquisa Gestão de Pessoas na Crise de Covid-19, divulgada recentemente pela Fundação Instituto de Administração (FIA).
Empresas que já possuíam uma estrutura de suporte perceberam um aumento substancial da utilização pelos colaboradores. A Gerdau, por exemplo, já disponibilizava o programa “+Cuidado”, tendo um aumento em 30% da sua demanda. Adriana Mansueto, gerente técnica de desenvolvimento relata que “Nós tivemos que intensificar nosso serviço e incluir atendimento online”.
Nesse cenário, até empresas que não haviam desenvolvido programas nesse campo passaram a olhar para a questão de outra forma. Esse foi o caso da Ambev, que inaugurou uma nova área voltada para saúde mental, bem-estar, diversidade e inclusão. Maria Holanda, líder da área, relata: “Percebemos um aumento nos números de notificações em que as pessoas se disseram mais estressadas, mais cansadas e mais ansiosas”.
A Natura, por sua vez, vem fazendo um trabalho inspirador nesse campo, prática que se iniciou muito antes da pandemia, mas se intensificou nesse período. Através do Remote Work Experience, a empresa foi capaz de ouvir os colaboradores sobre suas dores no Home Office e criar iniciativas para auxiliar na manutenção da saúde mental deles. Entre as iniciativas feitas, uma das mais impactantes foi a criação de um aplicativo de meditação que, além de exercícios relaxantes lembrava aos colaboradores que tão importante quanto produzir é ter um momento para cuidar de si mesmo.
Outra empresa que atua de forma essencial nesse tópico é a Vittude. A empresa tem seu core business em terapia online, campo que atua diretamente na manutenção da saúde emocional, tanto dos colaboradores quanto de outras pessoas. A plataforma também pode ser disponibilizada por empresas, sendo uma ótima prática para quem se importa com a experiência e bem-estar dos colaboradores.
Como cuidar da saúde mental dos colaboradores
Ao observar esses cases de sucessos, reunimos algumas boas práticas que são comuns às diversas empresas:
1. Implemente um programa de saúde mental e bem-estar
Ao invés de investir em práticas isoladas, a criação de um programa destinado ao tema pode obter mais sucesso. Uma vez que seus colaboradores já foram escutados e suas dores e demandas são conhecidas, facilita o processo de criação de iniciativas que previnam doenças psíquicas e aumentem sua saúde mental, tendo como consequência uma melhor experiência no trabalho, como fez a Ambev.
2. Cultive uma cultura corporativa acolhedora
Após o processo de escuta ativa, diversas empresas podem perceber que a cultura empresarial pode estar afetando a saúde mental dos colaboradores. Nesse caso, existe a necessidade de conscientização em todas as áreas da empresa sobre a seriedade e importância do tema. Assim, vale conversar com os líderes sobre os impactos negativos de subestimar essa questão no ambiente corporativo. Segundo Georgia Matos, psicóloga especialista do Serviço Social da Indústria (SESI) e coordenadora do guia de saúde mental para empresas lançado pela entidade, “Os gestores não estão preparados para lidar com problemas pessoais e agora estão precisando fazer isso, é essencial capacitá-los para criar um ambiente acolhedor, no qual as pessoas possam compartilhar suas dificuldades pessoais”.
3. Eduque os colaboradores sobre o tema
Apesar de progresso ter sido feito nos últimos anos, o tópico ainda pode ser considerado um tabu entre os colaboradores, principalmente entre os baby boomers (nascidos entre 1945 – 1964) e a geração X (entre 1965 – 1979). Dessa forma, há a necessidade de comunicar sobre a importância do tema, fomentando um diálogo aberto e incentivando o cultivo de hábitos saudáveis, tanto dentro quanto fora do ambiente empresarial.
Precisamos falar de saúde mental
Dados recentes de uma pesquisa feita pela consultoria Falconi e divulgada pela Revista Exame revelam que empresas brasileiras apontam para um aumento de 37% em doenças psiquiátricas ou distúrbios emocionais no período atual do isolamento social. Apesar de ser um tema de importância atemporal, o trabalho remoto atual mostra a urgência de prestar atenção na saúde mental dos colaboradores. E esse cuidado está intrinsecamente ligado à experiência deles.
A má gestão do estresse custa 80 bilhões de dólares às organizações no Brasil, segundo a ISMA-BR3. Dessa forma, ao gerir esse estresse por meio da constante escuta ativa dos colaboradores, agindo a partir de feedback e de dados, é possível economizar monetariamente uma quantia enorme e cuidar do maior ativo das empresas: suas pessoas. Assim, em homenagem ao setembro Amarelo, a equipe Pin People gostaria de reiterar a importância da saúde emocional dos colaboradores e a urgência de fazer esforços para promover um ambiente de trabalho que traga experiências positivas e mentes saudáveis.
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